sábado, 24 de maio de 2014

Apresentação

O ensino médio. 

Para os bem resolvidos, um simples rito de passagem: a ponte para o ensino superior, lugar de confraternização passageira e estudos. Vale ressaltar que os bem resolvidos não existem, estamos falando de adolescentes.

Para outros, no entanto, é o local onde nos estabelecemos. Estabelecemo-nos como pessoas, como amantes, como seres pensantes... Mas principalmente como "donos do pedaço". Nesse caso, estou referindo-me obviamente aos maiorais. Sim, os maiorais! Que contribuem tão pouco quanto podem, extremamente dispensáveis, exceto pelo fato de que cursarão uma engenharia e provavelmente serão mais ricos do que eu e você juntos. É normal que o leitor pense "mas que injustiça!" e eu respondo: não, amigo, isso na verdade é a própria justiça. Ou melhor, o "Justiço" encarnado; de classe média, branco e heterossexual: transbordante em bom senso. É melhor se acostumar, ou você fará parte da próxima camada escolar.

Os faltantes em resolução por completo, os pobre coitados da ralé. Eles estão abaixo dos maiorais, pois não aprenderam a utilizar os mecanismos sociais adequadamente. Essa falta de aprendizado pode advir de várias experiências, desde orientação sexual a poder econômico. Entrarei em detalhes quando tiver a oportunidade para isso.
Esses pobre coitados estarão eternamente à margem, até que aprendam como beneficiar-se da engrenagem social. É comum para eles sentir uma tremenda alegria ao terminar o ensino médio, cursarão uma graduação questionável em relação ao salário e encontrarão pessoas enfim semelhantes! Terão provável paz na faculdade, onde reformularão seus conhecimentos e quem sabe aprenderão a manipular a sociedade a seu favor. Caso contrário, voltarão à margem.

Temos também os intermediários, parece que esses aprenderam a manobrar os eventos sociais ao seu favor de uma maneira, tal qual não mais se perceba manipulação. Tudo parece o fluxo natural da vida, "é exatamente assim que deveria ser". Em questão de prestígio social, estão abaixo dos maiorais e acima dos pobre coitados. Uma posição hierárquica não poderia ser menos vantajosa: aproveitam dos privilégios das duas classes, recorrendo, ora acima, ora abaixo, para fugir dos suplícios indesejados.
Os intermediários estudaram a Idade Antiga e descobriram qual foi o erro do clero no controle das coisas: cobiçar a situação de maior valor. Por isso, os participantes dessa classe não pretendem ascender aos maiorais, estão cientes das consequências, sabem que o muro é mais confortável que o trono, sabem que o Rei é o primeiro a ser decapitado numa revolução. Por isso, permanecem intermediários.

Por favor, note que os níveis descritos acima não aparecem sempre tão demarcados. Um intermediário pode muito bem estar entre os pobre coitados ou maiorais, assim como um pobre coitado pode ser apadrinhado por um maioral, tudo depende.

A abstração grosseira da realidade é fruto da nossa incapacidade de compreensão, temos de construir modelos de representação para enfim alcançar o "real". Por isso, não se espante com as exceções que eu, Shkolinik, demonstrarei ao longo das crônicas. Tente imaginar o contexto, costurar nexos, fazer conexões.

Para quem não entendeu o propósito deste blogue, resumo: descrever a vida do ensino médio duma escola qualquer, mostrando o qual podre esta fase da vida pode nos tornar.

Boa leitura, esteja familiar consigo mesmo~

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